É literal e metaforicamente uma 'casa de revista' (ou não fosse o Arquiteto Miguel da Cunha o seu proprietário), espaço onde por uns dias podemos entrar e perceber o quão mais bonita uma casa se torna quando está arrumada, cheirosa, organizada e - já agora! - bem decorada! A casa é uma narrativa, considera o próprio. E nós entendemos logo isso quando aqui entramos. Percorrê-la é folhear uma revista de decoração, numa simbiose coerente entre o clássico e o contemporâneo. Ao longo do percurso, que se quer demorado nos pormenores, aos do projecto de decoração e aos das próprias peças, encontramos familiares referências ao gosto europeu e neoclássico, à Natureza e aos seus expoentes exóticos, à candura dum quotidiano calmo, doce, demorado. As cores, entre a rigidez do negro, a ostentação do dourado, o entrançado dos padrões e a alegria das cores pontuais, criam uma atmosfera coerente, na qual queremos ficar uns largos minutos. Há ternura e delicadeza aqui, e tudo se torna quase familiar. Apetece-nos sentir o cheiro a café e a torradas vindos da cozinha na manhã de primavera em que o calor, lá fora, já convida a permanecer demoradamente debaixo da pérgula do jardim. E no final da visita percebemos que nada disto é uma narrativa, mas um sonho daqueles que despontam quando estamos acordados; e estes sonhos são os melhores, porque destes não nos esquecemos.